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Do Carvão à Arte: Coletivo de Artes em Arroio dos Ratos

Link da apresentação da banca do trabalho de conclusão de curso de Arquitetura e Urbanismo da Uniritter por Pedro Guerreiro da Cunha https://youtu.be/HzvH77PusYg
Arroio dos Ratos/RS, uma cidade pequena que faz parte da região metropolitana mas é conhecida por ser o berço da região carbonífera, pois é aonde começou a extração de carvão na região sul do Brasil. Está centralizada geograficamente, estando a 60 km da capital do RS, cidade a qual também abrigou a primeira usina termelétrica do país, onde hoje se localiza o Museu Estadual do Carvão, lugar onde tive a oportunidade de frequentar desde a infância, crescer e viver diferentes atmosferas dentro do mesmo espaço.
O lugar(museu) acaba se tornando o símbolo histórico da cidade. Desde que o conjunto de ruínas se tornaram o museu do Carvão, o terreno de 11 hectares que faz divisa entre a área urbana e rural da cidade, abriga diversas atividades voltadas para arte e cultura local, porém, ao longo dos anos com a falta de manutenção e pela falta de estruturas necessárias as atividades já não ocorrem mais com tanta frequência.
Do carvão à arte é um resumo da memória e da história do local. O Coletivo de Artes então, é formado pelo conjunto de edificações pré-existentes,e novas edificações estruturas criadas para consolidar e aprimorar as atividades presentes hoje no local, se consolidando como um projeto de rearquitetura.
O conjunto de edificações de caráter fabril explora a horizontalidade porém com elementos verticais que se destacam dando dinâmica ao conjunto (no caso da preexistência, as chaminés). Alguns desses elementos verticais apresentam um dos lados maiores gerando uma volumetria de lamina onde dependendo do ponto de vista a volumetria se revela com o deslocamento podendo observar ora um volume esbelto ora um volume mais robusto, tal diretriz foi adotada na volumetria na composição do novo mirante.
O terreno se encontra a 800 metros do centro da cidade e 800 metros do arroio, é praticamente plano e faz vizinhança com uma região de várzea (área rural e mais alagadiça) e com a malha urbana da cidade. Em períodos de muita chuva, a água escoa do centro da cidade em direção ao arroio, passando pelo terreno,ocasionando então, diversos espelhos de água ao redor das edificações.
Com base na topografia e na história, que já foi alterado anteriormente, então, surgem questões que reforçam a necessidade do remanejo da terra. Resultando então, em uma nova implantação, em um mapa onde se dá usos as áreas não utilizadas hoje, criando uma grande passarela que abraça todo o conjunto e cria um novo percurso externo passando sobre as águas e uma nova edificação que se acopla ao pavilhão grande (preexistência) se integrando através do programa de necessidades de uso comum e unificada espacialmente com a preexistência.
Tal passarela, por vezes se torna pontual e adentra as ruínas tornando o ambiente acessível e criando novos pontos de vista. Assim como na obra de restauro, o terreno sofreu algumas alterações topográficas para reter a água de forma estratégica criando espelhos de água através de um técnica construtiva indígena denominada CERRITOS, utilizada por índios da região sul da América do Sul, em regiões de banhado. Tal técnica, nada mais é, do que elevar a topografia para fugir da água e por consequência subtrai alguns pontos criando áreas de acumulo e retenção estratégica de água, criando novos pontos de vista.
Projetar analisando, não só o percurso que gostaria que o telespectador fizesse, como também levando em conta o histórico e a memória do lugar, fez espontaneamente o desejo de criar um espaço de contemplação e zelo na comunidade.
A volumetria básica da nova edificação, a qual abriga o mirante, é composta por basicamente quatro volumes de diferentes usos que se diferenciam pela materialidade e pela forma. Um grande cubo que se acopla a pré-existência, que abriga a caixa cênica, o núcleo duro de circulação vertical, sanitários e parte do administrativo.
O volume mais alto e vertical, que simboliza no contexto geral a verticalidade das chaminés da antiga usina, onde funciona o mirante; um anel retangular que abraça os outros volumes e cria um pátio interno; e por fim a passarela que compõe a fachada e leva até o segundo pavimento.
O segundo pavimento é apoiado em uma malha de pilares e vigas no sistema de MADEIRA LAMINADA COLADA e como revestimento geral também é utilizada a madeira na cor natural. Somente os volumes que estão inseridos dentro do anel apresentam um revestimento de madeira carbonizada trazendo para o projeto, o elemento chave desse local que é o carvão.
A nova edificação abriga a parte mais importante do programa, as salas de aula, onde tem como foco projetos sociais de educação e arte, onde a magia acontece. Eu acredito que é através das atividades sociais voltada a todo público, e principalmente as crianças, consegue-se atingir maior sucesso, onde surge até, a possibilidade de mudar a vida das pessoas.
O programa de necessidades se espalhou por toda área do complexo de 11 hectares, onde no térreo se encontra acesso as ruínas principais,que é inserida uma passarela que permeia as ruínas dando acessibilidade e novos pontos de vista;  ao Museu Estadual do Carvão;  a um pequeno auditório; ao refreador onde é adicionado mais uma passarela; ao pavilhão grande onde abriga o teatro fixo, o restaurante e área para exposições temporárias; ao teatro que é reversível e se abre para um grande pátio circundado por um grande anel apoiado sobre uma malha de pilares; criando um espaço para eventos a céu aberto para um público maior, deixando o térreo mais livre. O primeiro pavimento abriga parte do administrativo do conjunto, mas elevando usos como as salas de aulas e algumas exposições de artes, provoca-se outros estímulos e sensações aos usuários, com outras visuais.
Para finalizar, Do Carvão à Arte, é um projeto com caráter educativo e cultural que se faz muito necessário para a região. É algo pensado para agregar no cotidiano de lá, mas nunca se esquecendo de demonstrar a Arte. Com um revestimento final de fechamento como se fosse uma cortina, o projeto pode se tornar uma tela enorme, abrigando diferentes eventos, podendo em algumas fachadas, conter jogos de luzes e projeções de imagem/vídeo, tornando tudo até bem poético e lúdico.

*Este projeto foi iniciado antes do Covid-19, mas finalizado durante a pandemia. Espaços que se agregam e são voltados à natureza se fazem cada vez mais necessários em nossos cotidianos. Esta também é uma aclamação à nos voltarmos as nossas origens e ao SER e ESTAR de nossas próprias vidas. O projeto foi pensado para se contemplar o verde, trazer mais arte e agregar socialmente na região, e como citado anteriormente, foi considerado que sua composição final tivesse materiais de cunho sustentável.

Obrigado.
Do Carvão à Arte: Coletivo de Artes em Arroio dos Ratos
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