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Reportagem | E cinco, seis, sete, oito...

Matéria produzida durante o curso de jornalismo, para a disciplina de Apuração, Redação e Entrevista, disponível no Portal Lamparina, o portal de notícia dos alunos da UFOP.

E cinco, seis, sete, oito!

Entre adágios, grand pliés, arabesques e tantos nomes difíceis, uma arte que vai além da dança: o ballet. Oriundo das cortes italianas do século XV, o ballet, aliado à poesia, ao canto e ao teatro surgiu como forma de descontração para a nobreza da época. Ah… Você deve estar se perguntando: “Mas o ballet não surgiu na França?” Também! A partir do casamento real entre a italiana Catarina de Médici e o rei Henrique II, o ballet foi incorporado à cultura francesa e ganhou o mundo. Chegando até a cidade de Mariana!
Segundo o site oficial do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a primeira instituição brasileira dedicada à dança foi a Escola Estadual de Dança Maria Olenewa criada em 1927, pela bailarina russa Maria Olenewa, que, mais tarde, foi integrada ao Theatro Municipal do Rio. Desde então, novas escolas voltadas à formação de bailarinos profissionais foram fundadas no Brasil. Desde as sapatilhas de ponta até a expressividade corporal trazida por esse esporte, o ballet é responsável por cativar pessoas e conquistar corações.

Na cidade de Mariana, em Minas Gerais, não foi diferente. Para a ouro-pretana Laura Célia Gomes, de 36 anos, o ballet faz parte da sua vida desde a sua infância: “Aos 7 anos de idade eu comecei a fazer aula de jazz na Vila Samarco com a professora Raquel de Ouro Preto, e quando vim para Mariana, aos 12 anos, eu comecei a fazer aula também de jazz com a professora Carla Gontijo no SESI Mariana”. O gosto e o amor pela dança veio de casa, segundo Laura: “A minha paixão, o meu gosto pela dança vem de família. Tenho tios e primos muito festeiros, sempre gostaram muito de dançar, meus tios e primos mais velhos sempre saíam em escolas de samba. Eu sempre assistia e participava muito com eles”.

O sonho de se tornar profissional e servir de referência para outras pessoas não surgiu de uma hora para a outra. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto e pós-graduada em Gestão de Pessoas, Laura buscou o caminho da dança e investiu em cursos profissionais para se tornar professora. Em 2008 Laura teve a oportunidade de abrir a sua própria escola de dança em Mariana, a Escola de Bailados. A priori, a professora afirma que nunca teve o sonho de lecionar ballet e, por sua vez, abrir uma instituição: “Fui me descobrindo professora através das oportunidades em que as minhas professoras, na época, me pediam para substituí-las. Nisso eu percebi essa facilidade e proximidade com as crianças, e a partir de então busquei investir no conhecimento da dança sob outro olhar. Não como uma bailarina, mas como professora, aquela que vai ensinar e fazer outras pessoas se apaixonarem pela dança”.

Do Oiapoque ao Chuí, o ballet atravessa gerações e derruba preconceitos. A dança clássica ainda é vista como uma modalidade de alto custo e exclusivamente feminina. A falta de visibilidade e reconhecimento atormentam o caminho de bailarinos que sonham em se tornar profissionais. Quando interrogada sobre as dificuldades que enfrentou até se tornar professora, Laura afirma que inúmeros percalços acompanharam a sua trajetória: “Nós vivemos em uma sociedade em que a arte não é vista como algo essencial para a formação de um ser humano. Ver a dança como uma atividade supérflua faz com que haja pouco investimento, e com pouco investimento a gente tem mais dificuldade de poder crescer. A dança não tem espaço, as pessoas não conseguem enxergar os benefícios não só da formação das crianças mas também o quanto os eventos, as oportunidades de apresentação para as nossas crianças são fundamentais”.

Poder da dança e busca pela perfeição
A dança não escolhe cor, raça, gênero ou idade. Para Júlia Rocha Gomes, de 12 anos e aluna de Laura, a dança surgiu na sua vida com apenas 2 anos de idade: “Quando eu comecei a dançar, vi que eu gostei do que estava fazendo, fui assistindo vídeos de dança, programas de televisão e comecei a amar o ballet”. A leveza, a concentração e a busca pela perfeição tomam conta das salas espelhadas com barras espalhadas pelas paredes.

O suor diário, a persistência e os inúmeros calos nos pés são sinais de quem busca pela perfeição. A bailarina Millena Oliveira Rodrigues, de 11 anos e que, mesmo com a pouca idade, já foi premiada em muitos concursos de dança em Minas Gerais, reconhece que o ballet mudou muito a sua vida: “É uma coisa que não é bom só pra minha saúde mas também é importante para as minhas emoções e os meus sentimentos. Mudou muito a minha vida na relação com os meus amigos e os meus pais. É uma arte que precisa de muita concentração. Precisa de movimentos técnicos, lentos e delicados, não é apenas lazer, me ajuda na vida corporal, no meu dia a dia e está sempre presente comigo”.

O caminho é doce, mas desafiador. Entre tantas adversidades que surgem no caminho como uma pedra no sapato (ou na sapatilha!), o apoio familiar, sem dúvidas, se torna essencial. Mãe de bailarina, Maristela Nair Gomes, de 30 anos, revela que logo na infância levou a sua filha, Ana Gabriela, para uma aula experimental de ballet: “Desde nova, por volta dos 3 anos e meio, percebemos que o que ela via as pessoas fazendo na dança, ela tentava imitar. Sempre dançava, adorava rodopiar colocando as mãos para alto e ficando na ponta dos pés. Num primeiro momento levei numa aula experimental para ver se adaptava, pois dançar em casa é diferente. Mas passado um mês de experiência vimos que ela se adaptou, então passamos a incentivá- la a continuar”.

A arte em movimento, o lúdico e a busca pela pirueta perfeita motivam cada vez mais os dançarinos. Ana Gabriela, hoje com 11 anos, afirma que sempre foi curiosa em relação à dança e sempre gostou de dançar: “Quando minha tia me mostrou um vídeo de ballet eu me apaixonei e sempre procurava na internet. O ballet mudou minha postura, flexibilidade, paciência, concentração e eu perdi minha timidez”.

Nem mesmo quem está “de fora” consegue ficar isento da graça e do deslumbre da dança. Para Maristela, quando se entra criança no ballet é possível melhorar a postura e o desenvolvimento da memória. Além disso, a dança proporciona um aumento da autoestima e o corpo adquire maior flexibilidade: “As pessoas passam a ter vínculos de amizades que proporcionam conhecer lugares diferentes, participando de eventos importantes para o crescimento. Essas participações em competições fazem crescer cada vez mais e buscarem crescimento, com isso pensam em estudar cada vez mais a arte”, completou.

Ballet no universo esportivo
Num universo marcado pela arte de exprimir sentimentos através da música, a pintura e poesia se misturam num passo só. Poesia essa que pode ser vista por meio dos versos do poeta Carlos Drummond de Andrade: “A dança? Não é movimento súbito gesto musical. É concentração, num momento, da humana graça natural”. Num singelo movimento, tudo flui e a coreografia se transforma; seja num cambré, seja num temido fouetté.

Técnica, música e atuação. Nomes que, certamente, acompanham a vida dos bailarinos! E, para a professora de ballet e profissional de educação física, Bárbara Mól, não é diferente. Para ela, o ballet clássico consiste na inter-relação desses três elementos. Ao dançar, o bailarino encoraja a disciplina física e o ganha o controle e conhecimento do seu corpo, de forma a inspirar um senso de confiança física e mental. “Os estudantes ganham disciplina da mente e do espírito, assim como do corpo. Permite que eles se expressem como indivíduos, artisticamente, o que pode ser passado para os outros aspectos de suas vidas”, declarou a professora.

Espairecer, tranquilizar, extravasar e gastar energia: a importância do esporte para a saúde e bem estar das pessoas vai além de todo trabalho mental. A estudante de educação física, Luiza Barbosa, de 18 anos, afirma que a prática de exercícios é uma forma de enriquecimento cultural: “Pode ser uma forma de trabalhar a mente no sentido de memória, no controle de pressão alta, na circulação, além de ajudar no ganho de massa corporal. Quando a mente está bem, o corpo também estará bem”.

Numa ciranda da bailarina, não há adágios que pareçam impossíveis e pax de deux que não saiam perfeitos. Num universo onde tudo parece intocável, o fascínio e o magnetismo pela dança se unem em um só ato. E claro, entre coques, en dehors, tutus, jetés e relevés, a luz se apaga, a sapatilha desamarra e tudo termina num belíssimo reverence…



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